quarta-feira, 29 de junho de 2011

Onze

Longas tempestades se apossaram de mim e a calmaria nem bem se avista ainda.
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Todos os anos são a mesma coisa. Chega uma época quando o inverno no sul impera que uma sensação ruim em minha mente se instala uma tristeza. Talvez seja uma desordem hormonal cíclica que ocorra em meu tecido cerebral ou porque eu considero que os anos se iniciam e terminam no cair do frio. Mas o que acontece é que esta época começou.

Nestas épocas meus olhos de observador se aguçam e começo a refletir sobre o que tenho feito nos últimos meses. Sobre um olhar raso diria que isso é uma coisa boa, mas já aprendi que talvez não o seja. Não direi simplesmente que esta revisão trará coisas boas, pois ela sempre traz amadurecimento e algum tipo de evolução, mas é sufocante e quase enlouquecedor estar neste estagio. Não consigo descrever a situação, não existe em meu vernáculo alegorias que as explique bem como não existe certeza em nenhuma palavra que digo.

Considero triste saber que sobre mim recai uma educação, principalmente emocional, falha que só me preparou para sentir sofrimento com as falhas e temer cometer-las como se houvesse punição maior que aquela imposta por nossas mentes. Foi esta educação que me fez acreditar que nesta época de minha vida estaria envolto por pessoas de espírito e ações nobres, mas foi um doce engano enquanto sonhado e uma amarga decepção agora que a vivo. Talvez a podridão tenha invadido os mais altos estágios da evolução da mente ou simplesmente aqueles que lá o chegam se contaminam ao sentir o cheiro do poder. O que eu acho, agora é que na verdade o mundo real, aquele fora de nossas mentes feito por nossas ações e posturas perante o mundo, seja o mais puro senso de futilidade que existe. Não me resguardo a indicação de estar no meio destas vis figuras, pois já me vi compartilhar do mesmo cálice que elas. A verdade é que a persona que escreve isso é a imagem fragmentada de minha consciência que talvez nesta época ganhe forças suficientes para assumir as redes e a voz.

Contesto fortemente o caminho que avisto a minha frente, por que tenho que fazer parte do rebanho que se acha especial, não o sou. Corrigindo, sou tal especial como todos o são, tenho a mesma fagulha de poder onipotente que precisa ser despertada, mas minhas intenções e usos dela esbarram nas de todo um universo. Ajo como uma gota em um turbilhão que tentasse fazer força para mudar seu sentido. A sensação é frustrante. Numa epifania um ano atrás vislumbrei que era incapaz disso, mas talvez se eu impulsionasse outros, estes poderiam sair do turbilhão. Para isso só precisaria me encher da força necessária para ajudá-los. Descartando as metáforas isso consistiria em obter na ordem conhecimento, influencia e dinheiro. Talvez um pouco de ambição tenha conseguido se desenvolver dentro de mim e com isso comecei a galgar alguns degraus nesta escada. No começo senti o incomodo de algo enorme instalar dentro de mim, meu ego. O tempo correu e agora noto duas falhas nos meus planos: a corrupção já existente dentro daqueles que marquei a serem impulsionados e acima de tudo a corrupção que ocorreu comigo quando eu me pus neste caminho. Bati de frente na futilidade que este mundo é pavimentado.

Sinto-me soando como um velho senil, paranóico que reclama do mundo dizendo que seu tempo era melhor, mas nem isso eu posso dizer, pois meu tempo se existiu não vivi e do contrario é o mesmo que eu sinto abominação. As vezes me sinto como os intelectuais das mídias que criticam o mundo, mas não movem um centímetro diante do espelho ou que criam alteregos que buscam vender para se sentir especial diante do mundo ao mesmo tempo em que engrossam os rebanhos. Talvez eu me enquadre neste sem ao menos ser famoso.

Talvez tudo isso se deva a minha imensa tolerância com o mundo junto a minha retaliação a minha conduta. Minha realidade se encheu de “talvez”. Rendi-me a tranquilidade da aceitação das mazelas do mundo ao mesmo tempo em que aceitei minha incapacidade de mudar o mundo. Nesta hora eu me odiei. A criança interior já tinha dito adeus há muitos anos, mas seus desenhos e brinquedos ainda estavam guardados e os acabava de queimá-los. O cheiro de queimado de meus sonhos se juntou a das esperanças e só pude ouvir o silencio. Nada mais fazia sentido, nem as minhas palavras. Sorte pois acredito que isso só durou algumas horas no mundo real. Séculos se passam em minha mente e o fogo já consumiu tudo.

Soa engraçado quando você diz a si mesmo após comprovar que as pessoas só usam você como escada ou escudo e que não tem honra. Perdi a graça quando você descobriu que você sempre buscou ou deixou acontecer isso. Arde após um beijo. Desta vez não houve figura de linguagem ou talvez ela fosse, mas sutil que eu pude captar. Queria poder salvar alguns de meu repudio mas todos já saíram de minha margem de tolerância de imperfeição humana. Até os amigos e inclusive a família. Temo me encaixar de vez neste quadro ao mesmo tempo que sei que já ocupo meu espaço lá.

O único medo verdadeiro que eu tive foi do futuro e que eu o disfarçava dizendo não gostar de rotinas ou programações. Agora não me parece estranho ser considerado estranho ou repetir ate a exaustão do respeito de meus amigos a débil frase “eu sei”. Agora o futuro de minha adolescência já é a realidade que eu vivencio, sem os devaneios ou floreios apenas os fatos e surge a duvida o que farei a seguir. A mentira de viver sem programação agora é forçada a se tornar realidade e o que fazer eu não sei. Decepção e duvida são as palavras que aparecem quando eu pisco os olhos. Talvez deva parar de piscar.

"Há momentos em que ninguém pode lhe ajudar nem mesmo você mesmo."